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sábado, 13 de dezembro de 2008

O CINEMA DIGITAL: BUBBLE (EUA, 2005)

O filme Bubble, de Steven Soderbergh, lançado em 2005, vai além de uma mera narração tradicional com início, meio e fim. O roteiro, aliás, é um pretexto para a construção das cenas imagéticas do filme. Soderbergh faz um cinema autoral e "experimental", a partir da captação das imagens feitas pelo próprio diretor, que também assina a fotografia com um pseudônimo, e pela escolha do suporte digital de alta tecnologia HD.
Deslumbrados com os avanços tecnológicos, muitos cineastas e produtores de vídeo tendem a esquecer a essência, o sentido, a força intrínseca que possibilita o êxito de uma obra. A técnica deve servir de suporte para a elaboração da imagem, adequando-se à necessidade de realização e ao conceito estético utilizado. As imagens devem falar através do olhar. Segundo Jean Claude Carriére – roteirista de filmes como Mahabharata, de Peter Brook e O Discreto Charme da Burguesia, de Luis Buñuel:
Não só a linguagem é complexa, já que se dirige a cada espectador individualmente e a platéia como um todo (com reações que podem variar de uma projeção para outra), como também todos falam do seu próprio jeito, com seus próprios recursos e idéias, se possível com seu próprio estilo, suas próprias limitações e idiossincrasias. ( p.32)
Assim, tanto na utilização do suporte digital quanto na escolha de atores não profissionais, o diretor lançou mão de técnicas diferenciadas, que permitiu o enxugamento do orçamento e viabilizou o filme. Segundo o diretor, a obra nasceu da vontade de fazer uma experiência barata que lhe permitisse observar o comportamento dos espectadores, inclusive na possibilidade de escolha do modo de assistir ao filme, que foi lançado simultaneamente na TV, DVD e cinema.
No início de Bubble, deparamos com uma escavadeira cavando a terra, uma imagem metafórica de que tudo que está escondido, ou seja, a podridão daquela sociedade, virá a tona. Utilizando os próprios moradores de Belpre, Ohion (noroeste americano) como atores, e a própria cidade como cenário onde se passam as filmagens, o diretor reconstrói o tecido dramático do filme. As cenas parecem reais e próximas do cotidiano do telespectador. Carriére analisa o processo de construção do roteiro:
Um filme está pronto quando o roteiro tiver esvaecido. Sua estrutura não está mais a vista. Toda a inteligência da platéia se concentra no filme em si, não na maneira como o filme foi realizado. Em outras palavras todo o trabalho preparatório desaparece. Todas as articulações, toda a informação necessária injetada enquanto o trabalho se desenvolvia, estão agora incorporadas à própria ação. O material de construção se dissolveu. ( p.165).
A iluminação cria o clima de mistério, artificial em muitos momentos, em tons pastéis e cinza, e traduz o interior das personagens: seres frios, silenciosos, passionais, niilistas. Quando Martha é presa, a luz azul do seu rosto é a mesma do enquadramento dela sentada no banco da igreja, ou seja, uma luminosidade que remete ao seu estado psicológico. Tarkoviski justifica:
Na verdade, o que nos encanta a imaginação é o absurdo da mise en scène; este absurdo, porém, é apenas aparente e oculta algo de grande significado que confere à mise en scène a qualidade de absoluta convicção que nos leva a acreditar no acontecimento.( p.23)
O silêncio, em muitas cenas de Bubble, é utilizado como uma pausa, uma forma de expressar através das imagens o que não pode ser dito em palavras. "Ápice do instante contemplativo é um estado paradoxal: é um não ser, no qual, de alguma maneira, dá-se o pleno ser" (Octavio Paz, México, 1954).
Enquanto a trilha sonora é um mero acessório para pontuar algumas cenas, ela não acompanha fazendo um "pano de fundo" melodramático, mas age quase paralelamente às imagens. Ela sugestiona, mas não indica caminhos e saídas.
A câmera é quase estática, com enquadramentos ora com planos abertos nas paisagens e espaços públicos, ora com planos fechados nos rostos, principalmente de Martha (Debbie Doeberiner), supostamente a assassina não confessa da jovem Rose, responsável pela quebra da rotina da cidadezinha.
A atribuição de uma nova dimensão à imagem, a partir do primeiro plano, destacando fragmentos do corpo, foi inicialmente considerado como algo contrário à natureza. Falou-se de "grandes cabeças", de dumbs gigants (gigantes mudos), criticaram os cineastas por considerarem que uma cabeça não podia mover-se sozinha, sem o auxílio do corpo e das pernas (Jacques Aumont, 1993, p.140). Já nos anos 20, cineastas como Jean Epstein exploraram a possibilidade de o tamanho relativo da imagem e do objeto representado, ao ponto de considerar o close "a alma do cinema".
"A imagem eletrônica utiliza uma linguagem metonímica, em que a parte, o detalhe, o fragmento são articulados para sugerir o todo, sem que esse todo possa ser revelado de uma só vez" (Arlindo Machado, 1990, p.48). Isso possibilita com que o vídeo seja o meio propício para o primeiro plano.
A partir de um triângulo amoroso: Martha, que amava Kyle (Dustin James), que amava Rose (Misty Dawnwilkins), o filme deflagra vários temas: a religião, o tédio, a solidão, a paixão, os desafetos, o pessimismo, a lógica da produção industrial, a sedução. Não se conta uma grande história. O que existe no filme é o desenvolvimento de microcélulas dramáticas: a relação de Martha com o pai doente, a relação de Rose com o ex-marido e com a filha de dois anos e a relação de Kyle com sua mãe. A câmera é um participante ativo de todo o processo. A igreja é o casulo da solidão, onde evoca-se um suposto "Deus" para o perdão dos pecados. Os moradores estão tão congelados que as imagens parecem fotografias.
A fábrica é espaço de socialização, espaço em que as relações são aproximadas com os personagens principais, que interagem no intervalo da produção dos bonecos. A própria escolha de uma fábrica de brinquedos, bonecos silenciosos, passivos, estáticos, manipulados, construídos e destruídos, produção massificada, indiferença, são metáforas dos "estados de alma" dos moradores.
No final do filme, a mãe do personagem Kyle assume o posto na fábrica que pertencia a Martha, já que ela foi presa e punida por ter assassinado a jovem Rose. Passado alguns dias, a rotina da cidadezinha volta ao normal. A violência é um tema presente e banalizado na sociedade. Uma sociedade doente... uma sociedade bolha prestes a explodir.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
AUMONT, Jaques. A imagem. Campinas, Papirus, 2005.
CARRIÉRE, Jean Claude. A linguagem Secreta do Cinema. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2005. MACHADO, Arlindo. A Arte do Vídeo. São Paulo, Brasiliense, 1990.
TARKOVISKI, Andrei. Esculpir o tempo . São Paulo: Martins Fontes, 2001.

domingo, 9 de novembro de 2008

A PRODUÇÃO DE COCO AVANT CHANEL

COMEÇA A PRODUÇÃO DE COCO AVANT CHANEL, COM AUDREY TAUTOU NO PAPEL PRINCIPAL

COMEÇA A PRODUÇÃO DE COCO AVANT CHANEL, COMAUDREY TAUTOU NO PAPEL PRINCIPALFilme contará a história de um dos maiores nomes do universo da moda
Paris é o local escolhido para o começo da produção de Coco Avant Chanel, nova longa-metragem da Warner Bros. Pictures da França, juntamente com Haut et Court (The Class – Palma de Ouro em Cannes 2008), Cine@ e Films Distribution (La Fille de Mônaco). As primeiras cenas começaram a ser gravadas em 15 de setembro, na capital francesa.
O filme será dirigido por Anne Fontaine e o papel de Coco Chanel será interpretado pela francesa Audrey Tautou. Outros nomes no elenco são Benoit Poelvoorde, Emmanuelle Devos, Marie Gillain e Alessandro Nivola.
A trama irá trazer partes de L´irrégulière, biografia de Coco escrita por Edmonde Charles-Roux e publicada na França pela editora Grasset. O roteiro foi escrito por Anne Fontaine e Camille Fontaine, com colaboração de Christopher Hampton. O filme se concentrará nos anos de aprendizado de uma das maiores designers de moda do mundo e mostrará como uma jovem de origem humilde e que estudou sozinha se tornou um símbolo de sucesso e liberdade, além de ajudar a criar o perfil da mulher moderna.

"Qualquer mulher que deseja traçar um destino para ela própria poderá se identificar com os primeiros anos de Coco Chanel, uma mulher autodidata que sonhava em entrar no mundo enquanto exacerbava suas diferenças e ignorava todo o resto do extraordinário destino que a aguardava. Isto é o que garante a modernidade do filme e é por isso que eu não hesitei um segundo sequer quando me ofereceram o papel", comentou Audrey Tautou.O diretor de fotografia será Christophe Beaucarne que recentemente colaborou com Cedric Klapisch e Jaco van Dormael. Olivier Radot (Lucie Aubrac – Um Amor em Tempo de Guerra, Le Garçu, Gabrielle) é o desenhista da produção. Catherine Leterrier, que trabalhou com diretores como Jean-Paul Rappeneau, Alain Resnais, André Téchiné e Luc Besson, será responsável pelo figurino da produção.
A produção terá a ajuda da Maison Chanel e de Karl Lagerfeld, que permitiram acesso total aos arquivos e coleção.As gravações serão em francês e acontecerão nos arredores de Paris e na Normandia durante 12 semanas. O lançamento do filme está previsto para o outono de 2009 e será distribuído nos cinemas brasileiros pela Warner Bros. Pictures.
Postado por Produção de Moda UNIFMU 2008.2 às 16:36

EM 2011

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