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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tributo a Michelangelo Antonioni

Em 95, eu tinha um fã clube Antonioni...em 2007, ele se foi para ALÉM DAS NUVEN, abaixo minha impressão do filme que marcou uma fase da minha vida e foi o último filme que ele dirigiu.
Antonioni fez nos seus filmes um desfile de moda, nas suas películas existem uma preocupação com um guarda-roupa impecável. O filme Depois Daquele Beijo (Blowup, Itália/Reino Unido, 1966), gira em torno do mundo da moda e “ A Aventura” os diálogos e as roupas se combinam e contracenam. Chamava atenção de Antonioni a aparência que as roupas exerciam como sinônimo de status e de fracasso.



A partir do livro "Quel Bowling Sul Tevere", de sua própria autoria, Antonioni deixa seu olhar vagar por cidades da França e da Itália. Com uma câmera fotográfica, um diretor acompanha fatos em torno de pessoas que vê pelos lugares por onde passa. Em sua busca, flagra quatro belas e intrigantes histórias de amor.

O filme: "Além das Nuvens" de Michelangelo Antonioni ( co-direção de Wim Wenders)é uma autobiografia do cineasta, no que tange a busca insaciável pela incomunicabilidade .Chega de fórmulas prontas para o riso ou o choro fácil, é preciso ir "ALÉM"da aparência: " Atrás de cada imagem revelada...existe outra mais fiel a realidade. E, no fundo dessa imagem, há outra...e mais outra atrás da última... e assim por diante, até a verdadeira imagem...daquela realidade misteriosa, absoluta...que ninguém jamais verá."

Influenciado pela cidade onde vivia "Onde todos são terrivelmente fechados", Antonioni coloca de forma inteligente todas as suas referencias. Para Antonioni "a degradação da sociedade industrial é também a degradação da imagem e da própria capacidade de ver. O homem morre por causa, muitas vezes da miopia visual, pois é um ser condicionado e bombardeado pelas imagens de tv. Antonioni nos seus filmes faz e exige uma re-educação do olhar.

Na primeira parte do filme, o fotógrafo diz: "É na escuridão que a realidade se acende". O encontro do homem com ele mesmo é capaz transcender e assim, criar. Como disse Van Gogh: "Eu quero a luz que vem de dentro, quero que as cores representem as emoções". Sentir a natureza e aguça a sensibilidade para decodificar os signos não verbais. Numa outra parte do filme o ator diz: "as pessoas não contemplam mas o mar nem o por-do-sol"- É o que Artaud chama de: aspecto revelador da matéria que parece de repente desabrochar em signos.
A linguagem não verbal ( as roupas) o aproveitamento das palavras, dos gestos, a metalinguagem da encenação tão propagada por ele.

Na segunda parte, o fotógrafo vai até a cabine de telefone pega um cartão postal , o código para o novo cenário. A idéia de simulacro e o questionamento da existência do tempo e do espaço . Ao sentar no balanço, a areia que se movimenta como o deserto , dando a idéia de locomoção, o fotógrafo é transportado para outro local...

Perto do mar é possível ouvir o som das ondas. Uma mulher de aparência dócil arrumando à vitrine da loja a presença do fotógrafo causa desconforto, dando a impressão de compactuarem um mesmo segredo... Em outro momento, ela diz a ele: "- Matei meu pai com doze punhaladas". A crueldade de Artaud presente no diálogo, a maneira de relatar um fato sem fazer rodeios. "origens numa impulsão psíquica que fala anterior às palavras". Sobem uma escada acompanhados de suas sombras até uma cama e os seus corpos se encontram em um grande balé...a expressão corporal é muito rica de gestos e sutilezas.

"A mulher traída", a cena embalada por notas de piano...a desilusão...o amor é uma armadilha. Riqueza em signos e afirmando a presença do cenário não como acessório, mas como parte fundamental do todo. Minha atenção é desviada para um quadro de Francis Bacon na sala da casa da amante e a forte predominância das cores : vermelha e azul.

A amante cobra atenção e ele responde com sexo até ela esquecer por minutos o mundo lá fora, a carne, é que importa. A posse é esquecida pelo prazer.Um apartamento , um interior vazio...um encontro entre duas pessoas estranhas, o isolamento, o distanciamento em que as pessoas são condicionadas, não se falam no elevador, vivem em redomas ou tubo de ensaio de vidro e concreto... "apertamentos". O fim do espaço público em detrimento ao crescimento do espaço privado, prisões de concretos, vigiadas pelos meios de comunicação.

O trem partindo...um jovem casal em busca de emoção. "Ao invés de pensar nas coisas, eu prefiro sentí-las", pensa o fotógrafo no trem, um aventureiro em busca de momentos singulares para congelá-los em belas fotografias...

Um casal de meia idade pintando a paisagem "a cópia das coisas" uma reprodução de Cézane, só que este retratava a natureza morta nela mesmo e Jeanne Moreau e Marcello Mastroianni pintam a natureza morta pelo homem...a poluição. O quadro inicialmente tem cores quentes, mas já na moldura as cores são frias.

A era das cópias, do conhecimento fragmentado , os meios de comunicação possibilitam o homem de transcender suas limitações, ao mesmo tempo que juntam pólos e transformam o mundo numa "aldeia global".

A voz em off fotógrafo: "A profissão de um diretor é singular, nosso esforço é voltado para assimilação de novas emoções e o aprendizado de nossos códigos visuais. Não vivemos mais dentro de um filme. Fomos despejados. Somos desabrigados expostos ao olhar à suspeita e à ironia de todos. sem poder falar a ninguém de nossa aventura pessoal. Que não está registrada no filme ou no roteiro. Uma lembrança estranha como de um pressagio...do qual o filme é uma comprovação incompleta. O relato completo é feito pela ciência quando a viagem é retomada, de um lugar a outro...Para ver, fazer perguntas . Não sonhar com coisas que se tornam mais ilusórias...em vista de um novo filme..."

As obras de excelência do seu cinema contemplativo são muitas, das quais destaco O Grito (1957), A Aventura (1960), O Eclipse (1962), Deserto Vermelho (1964), o britânico Blow Up (1967) e Profissão: Repórter (1975).

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beijos jo souza

EM 2011

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